Da
Bahia para Brasília, João de Santo Cristo vive um amor trágico com Maria Lúcia
entre tráfico de drogas, discriminação e intolerância, um governo militar e uma
polícia corrupta. A história da música Faroeste Caboclo já é conhecida pelos
fãs da Legião Urbana e agora vira filme, com lançamento antecipado para 29 de
junho, quarta-feira, em 320 salas brasileiras. Em coletiva de imprensa na tarde
desta segunda (27), o diretor, a produtora e parte do elenco contaram suas
impressões e revelaram curiosidades sobre as gravações. O filme marca a estreia
do diretor René Sampaio com um longa-metragem, a estreia do baiano Fabrício
Boliveira como protagonista no cinema e a estreia de Isis Valverde nas telonas.
A combinação de primeiras vezes traz um filme cheio de cenas fortes, entre a
delicadeza e a violência. Inspirada na música de Renato Russo, o cenário é a
capital federal dos anos 80, com uma juventude cheia de conflitos e mudanças. A
história conta a saga de João (Fabrício Boliveira), jovem negro e pobre que sai
de uma cidadezinha da Bahia - a fictícia Santo Cristo - e vai tentar uma vida
melhor em Brasília. Envolvido com tráfico drogas, acaba conhecendo a
"menina linda", Maria Lúcia (Isis Valverde), filha de senador, rica e
estudante de arquitetura. Ao contrário dos filmes de faroeste, onde o vilão e o
mocinho são bem desenhados, em 'Faroeste Caboclo', os mocinhos têm diferentes
nuances. Maria Lúcia, por exemplo, é uma burguesa maconheira e o próprio João,
apesar da sensibilidade, tem seu lado cruel: mata, bate, machuca e planeja
vingança. Já o antagonista, o playboy e traficante Jeremias (Felipe Abib),
também mostra certa fragilidade em algumas cenas. Sobre o projeto do filme, dá
até para considerar que o começo de tudo se deu quando o diretor ouviu a música
pela primeira vez na rádio, no final dos anos 80. René ficou fascinado e disse:
"Essa música dá um filme". Os nove minutos de canção, com uma letra
enorme e bem visual, fizeram da história a base para um roteiro
cinematográfico. E depois de colocar na cabeça que ia filmar a história de João
de Santo Cristo, René e a produtora Bianca de Felippes (mesma de Carlota
Joaquina), conseguiram os direitos autorais em 2007 e a preparação para as
gravações começaram em 2009.
"Foi
um processo de muito tempo. Eu poderia ter feito três filmes de baixo orçamento
nesse mesmo período. Mas eu queria fazer esse longa. Foi uma felicidade de eu
ter conseguido fazer esse filme e ter chegado até o final", contou René ao
iBahia. E completou: "Estou muito realizado com o filme que a gente fez.
Chegamos a um resultado que me faz feliz".
Para
Fabrício Boliveira, a letra de Renato Russo faz parte da formação brasileira.
"Está tudo ali: os candangos de Brasília, o primeiro êxodo rural que
aconteceu na formação de São Paulo, de algum jeito essa música é um espelho
nosso", disse. Fabrício também fez um paralelo entre a história e algumas
questões da atualidade, como a situação das penitenciárias brasileiras e a
discriminação racial. Fabrício também acredita que seu personagem tenta fugir
do seu próprio destino, mas o destino vai atrás dele. É que como um anônimo do
sertão para um "bandido destemido e temido no Distrito Federal", o
final da música é uma tragédia e com o filme, não dá para esperar diferente. Entre as curiosidades, o diretor acabou
contando um pouco de que foi gravar algumas cenas. Uma das mais bonitas, onde
Fabrício e Isis gravaram em uma madrugada fria no Lago Paranoá, o diretor
revelou: "Também caí na água. Sou um diretor que gosta de ficar perto das
câmeras e dos atores", contou. "Não acredito que você caiu",
disse Felipe Abib - que não participou da cena - sob risadas. Fabrício também
revelou que boa parte do diálogo desta mesma cena foi improvisação. De acordo com
ele, Isis Valverde começou a desenvolver e o ator entrou no clima. Para o
veterano Antônio Calloni, o filme reúne todos os arquétipos humanos.
"Amor, ódio, sofrimento, prazer, dor, isso é atemporal e isso tem um
alcance para todo tipo de público. Essa letra bate direto no osso, é
imediata", contou.
Veja o trailler:
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